sábado, 27 de outubro de 2018

Bola de discoteca gigante lançada ao espaço preocupa astrônomos

Ainda que haja preocupação na comunidade científica, segundo especialistas os efeitos da “Estrela da Humanidade” não devem ser grande motivo de preocupação 


  



Isto é chamado “Estrela da Humanidade” e foi feita para nos lembrar de nossa insignificância no universo. Um pouco mais brilhante que outros pedaços de metal que já colocamos no espaço e com uma vida útil de 6 meses, esta bola de discoteca gigante é mais um truque de relações públicas — o que está deixando alguns astrônomos bem bravos.

Em 21 de Janeiro deste ano, a Rocket Lab, uma empresa baseada na Califórnia, lançou o segundo estágio de seu foguete Electron de uma plataforma de lançamento na península Mahia, na Nova Zelândia. Além de enviar três satélites pequenos, o foguete — com o nome Still Testing (ainda testando, em tradução livre) — deixou a “Estrela da Humanidade” no espaço, o projeto de estimação do CEO da companhia, Peter Beck.
Entendendo a “Estrela da Humanidade”

Medindo quase um metro de largura, a esfera de fibra de carbono geodésico é equipada com 65 painéis reflexivos. Ela deve rodar tão rápido e refletir o Sol de tal modo que consigamos vê-la da superfície da Terra durante a noite. Vai ser brilhante, mas não super brilhante, exibindo uma luminosidade um pouco maior que algumas estrelas e outros satélites artificiais. A bola gigante vai percorrer o globo a cada 90 minutos, viajando cerca de 9.180 metros por segundo, ou 27 vezes a velocidade do som.



Peter Beck, da Rocket Lab, ao lado da “estrela” (Imagem: Rocket Lab)

Beck espera que a estrela seja o objeto mais brilhante do céu durante a noite — um lembrete perpétuo de que vivemos em um pedaço de pedra de um universo gigante. O CEO da empresa odeia a comparação com uma bola de discoteca, dizendo que a sua estrela representa algo maior — um tipo de “ponto focal” para a humanidade pensar sobre problemas maiores, como mudança climática e redução de recursos naturais.
Os astrônomos não curtiram

Ainda que Beck, da Rocket Lab, tenha supostas boas intenções, o fato é que o astrônomos não gostaram da iniciativa. Para alguns deles, em entrevista ao Guardian, a tal “Estrela da Humanidade” vai atrasar bastante o trabalho deles.

“Wow, graffiti espacial intencional com luz brilhante de longo termo. Muito obrigado, @RocketLab”, tuitou o astrônomo Mike Brown, do Cal (California Institute of Technology). Outra opinião crítica à “estrela” foi de Caleb Schwarf, diretor de astrobiologia da Universidade de Columbia. “Uma outra invasão em meu universo pessoal, um outro item brilhante pedindo por atenção”, disse em entrevista para a Scientific American.

Ainda que haja preocupação na comunidade científica, segundo especialistas os efeitos da “Estrela da Humanidade” não devem ser grande motivo de preocupação.

“Entendo a preocupação de muitos astrônomos, especialmente os que trabalham com observação óptica”, disse Abel Méndez, astrobiologista planetário e fellow da NASA na Universidade de Puerto Rico. “Há sempre a probabilidade de um satélite confundir ou ofuscar uma observação astronômica. Isso é exatamente o que pode acontecer com objetos brilhantes como a ‘Estrela da Humanidade’. Ainda bem que ela se move rapidamente, não atrapalhando tanto o campo de visão.”

Jonathan McDowell, um astrofísico no Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica e especialista em satélites artificiais, disse ao Gizmodo que a preocupação faz algum sentido, mas que a bola em si não deve causar muitos problemas.

“O que é particularmente chato sobre este satélite é que ele foi feito para ser visualmente brilhante e não tem nenhum outro propósito. É o equivalente no espaço a alguém colocar uma propaganda de neon do lado da janela de seu quarto”, disse o especialista.
Planos futuros

Ainda que ela percorra grande parte do planeta, poucas pessoas terão sorte de vê-la. A poluição visual é um problema sério em alguns lugares, além disso a grande bola de discoteca vai ser melhor visível de algumas regiões. Por exemplo, nas próximas seis semanas será melhor vista da Nova Zelândia e na Austrália. Em março é a vez da América do Norte. É possível ver o progresso da “Estrela da Humanidade” numa página da Rocket Lab.



Mapa com o trajeto da “Estrela da Humanidade” (Imagem por Humanity Star/Rocket Lab/Google)

Beck espera lançar mais “Estrelas da Humanidade” no futuro, mas ele está aguardando para ver qual será a resposta do público a esta que eles soltaram recentemente. Com toda a certeza, ele também deve avaliar o quanto que este artifício de relações públicas vai beneficiar sua empresa de foguetes. Além desse lançamento, a Rocket Lab disse que está próxima de lançar satélites comerciais. Quer forma melhor de divulgar sua empresa que jogando uma bola gigante brilhante no espaço.

[Washington Post, BBC e Guardian]

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